segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

DIGA 33

A medicina, sem dúvida alguma é, uma das profissões mais fascinantes e intrigantes. Fascinante, se levarmos em conta que o médico, é o responsável pela nossa saúde e, tem o poder absoluto quando entramos num consultório ou hospital. Intrigante, quando tentamos ler o que o Doutor escreveu na receita e, não entendemos uma linha sequer. A famosa "letra de médico" é algo que só os farmacêuticos entendem ou, os hipocondríacos que, além de absorverem e sentir qualquer doença, desenvolvem uma habilidade fantástica ao lerem aqueles hieroglifos quase psicografados.

Ser médico também confere um status superior. Outro dia, escutei numa loja de carros semi-novos que, tal modelo estava impecável, pois era "carro de médico" - como se alguém formado em medicina, tivesse habilidades e cuidados com o veículo, diferente dos comuns mortais.

Resolvi escrever esta postagem, depois de ser atendido numa super clínica. Quando cheguei para a consulta, imaginei ser recebido de imediato pelo Doutor, cujo nome ornamentava a fachada do prédio. Que nada! Após entregar meu carro no estacionamento, onde havia no mínimo seis manobristas, fui recebido por um funcionário alto e careca que, parecia o Gênio da Lâmpada. Não fosse o terno e a gravata borboleta que ele usava, eu diria que meu nome era Aladim.

Fui acompanhado até a recepção onde, três belas moças me fizeram um questionário interminável. Logo após, passei por uma mini lanchonete, onde me ofereceram café, chá, sucos e biscoitos. Tomei um café. Continuando o tour pela clínica, uma sala muito bem decorada, com poltronas de couro, me aguardava. Umas quatro pessoas, todas sorridentes, me cumprimentaram, enquanto também esperavam alguma novidade naquele templo da medicina. Não sei porque, achei que aqueles quatro pacientes eram figurantes contratados. O sorriso deles parecia programado, tipo aquelas pessoas que aplaudem e gritam no BBB, em dia de eliminação.

Meu nome foi anunciado e, uma Nutricionista me esperava em sua sala. De novo, perguntas intermináveis, sobre os meus hábitos alimentares, eventuais vícios, atividade sexual, leituras, convivência familiar, hobbies, preferência musical...ufa! Quase desisti da consulta.

Após a Nutricionista, foi a vez da Fisioterapeuta. Novas perguntas e, respostas já de saco cheio.

Finalmente, me avisaram que o Doutor iria me receber. Fui recebido pelo assistente do Doutor. Era um jovem sorridente, como aqueles quatro que aguardavam atendimento. Após uma conversa de 15 minutos onde, minha pressão foi aferida, o jovem Doutor/Assistente prescreveu alguns medicamentos e exames que, deveriam ser realizados num laboratório indicado pela clínica.

Quase estava esquecendo de relatar que, a Nutricionista também prescreveu uma dieta, cujas comidas congeladas, também deveriam ser adquiridas numa empresa recomendada por ela (e pela clínica, evidentemente). A Fisioterapeuta ficou de me enviar um email, indicando onde eu deveria fazer alguns exercícios.

Antes de me dirigir ao setor financeiro onde, uma conta do tamanho do rombo da Petrobrás me aguardava, eis que surge numa porta de vidro, o Doutor titular, aquele com nome na fachada do prédio. Ganhei um abraço e, em seguida me perguntou se fui bem atendido e, se gostei da clínica. Tive vontade de dizer que nem Walt Disney faria melhor. Nos despedimos e, fui pagar a conta, forçando um sorriso de figurante.

O Gênio da Lãmpada engravatado, me acompanhou até o estacionamento e, fui embora.

No caminho, lembrei do Dr. Paulo Moreira. O Dr. Paulo era aquele típico médico de família. Quando chamado, ia na minha casa com a sua indefectível maletinha de couro e, sobre ela, receitava uma tal "Limonada Purgativa" que, após ingerida, fazia a gente virar do avesso no banheiro mas, a cura era garantida. É claro que antes, ele colocava o estetoscópio nas minhas costa e falava: "DIGA 33"...

Saudades daqueles tempos, sem pacientes figurantes.

4 comentários:

Unknown disse...

Como profissional da saúde eu lhe entendo perfeitamente....mas esta é a sociedade do espetáculo onde todo este aparato não substitui a conversa e a confiança q tínhamos nos nossos médicos de família.Isto já se tornava metade do tratamento a outra metade ficava por conta de alguns medicamentos ou ainda por conta dos desabafos e do cafezinho no fim da consulta......bons tempos.

Gil Kurtz disse...

Excelente narrativa. Daria um bom filme "publicitário". Bacana que voltastes a nos privilegiar com teus textos.

Alberto Mendes disse...

Francisco, só espero que os honorários que Você pagou tenham sido no nível do médico assistente pois caso contrário o abraço do Doutor "medalhão" deva ter ficado muito caro !!! rs rs

Déia disse...

Hahahaha nossa Dindo! E afinal, vai fazer o tratamento?