quarta-feira, 25 de abril de 2018

SE EU FOSSE UM CARRO


Gosto de carros. Alguns mais, outros menos. Na verdade, prefiro os antigos. Mesmo sem a tecnologia atual, os idosos de quatro rodas têm um charme especial; têm história de sobra para nos contar.

Aprendi a dirigir aos 10 anos. Três dias após completar 18 anos, obtive minha primeira CNH. Minha diversão preferida era o Autorama, sem contar os inúmeros "carrinhos de montar" da "Revell", que consumiam horas e dias da minha infância e adolescência. Este breve resumo, talvez explique porque adoro tudo o que se refere ao automobilismo.

Muitas vezes e, talvez a psiquiatria explique, tenho a mania de comparar pessoas com automóveis. Minha primeira professora tinha a boca grande e, parecia estar sempre sorrindo, mostrando os dentes. Eu a achava igualzinha à grade frontal de um Buick 1951. Meu tio era narigudo e eu o comparava com um Studebaker. A empregada doméstica da minha casa, era bunduda e, parecia um Mercury, também dos anos 50. Quem conheceu ou lembra desses carros, talvez me entenda.

Atualmente, com os carros quase todos iguais, fica difícil fazer comparações. Prefiro fazer uma analogia entre os "temperamentos" de carros e pessoas. Por exemplo, conheço pessoas tipo 1.0. Explico: São pessoas sem vaidade alguma; não têm carros e sim, condução e gostam de economia. Não precisam de ar condicionado, vidros elétricos ou qualquer outra "ostentação". O que importa é economizar gasolina, seguro e IPVA. São monges do trânsito, com votos de pobreza, ainda que tenham condições de possuir algo melhor. Existem, em contrapartida, a turma do "cheguei pessoal!". São os que amam carros italianos, de preferência, com sei lá quantos cavalos no motor, cores extravagantes e, ronco igual à um leão faminto. Ao contrário do pessoal 1.0, ignoram o preço da gasolina e demais gastos. Fazem de tudo para aparecer e mostrar a potência de "la macchina" nas ruas. Neste caso, o velho Freud talvez também tenha explicação. Poderia também citar o tipo "trator" - pessoas sem educação e que passam por cima de tudo e de todos. A lista é longa.

Pois bem, e se eu fosse um carro? Me definiria como um modelo já fora de linha, dos anos 50, fabricado na Europa (Alemanha ou Inglaterra). Poderia ser um simples Jaguar ou, um modesto Porsche, com todas as revisões feitas; bebendo com moderação e rodando tranquilamente, sem alardes. Minha aceleração seria gradual, usando os freios na hora certa. Entraria nas curvas com sutileza, apreciando seus traçados. Jamais iria me comparar com modelos atuais, com prazo de validade definido. Apesar de antigo e fora de linha, com certeza ainda arrancaria suspiros de quem me visse numa tarde de domingo.

É verdade que nós, antigos de quatro rodas, não somos aceitos pelas seguradoras. E elas, não sabem o que estão perdendo. Os acidentes são raríssimos e, somos cuidados com todo amor e carinho. A vantagem é que não nos cobram IPVA.

Os muito jovens, aqueles que só curtem carro novo, me desculpem. Como dizia Vinicius de Morais, beleza é fundamental. Eu acrescento a experiência também.

Fui! Vruuummmm...!

domingo, 15 de abril de 2018

OS ANOS 60



De uns tempos para cá, tenho remetido minha memória para algumas décadas já vividas, principalmente os anos 60. Acho que a explicação está no seriado Mad Men, do Netflix, ao qual tenho sido espectador assíduo.

O enredo e a fidelização aos costumes e moda daquela época, são impecáveis no seriado. A cronologia dos acontecimentos, são perfeitos.

Após cada episódio assistido, fico lembrando daqueles anos que, para mim, foram realmente dourados. Lembro de filmes tipo, Bonequinha de Luxo, estrelado por Audrey Hepburn e George Peppard. Ou ainda, Um Homem...Uma Mulher. Ou talvez, A Primeira Noite de um Homem. A lista seria enorme e seria necessário uma postagem única.

Na música, tivemos Beatles, Rolling Stones, Janis Jolin, Jimmy Hendrix, entre outros que são lembrados até hoje. No Brasil, foi a década da consolidação da Bossa Nova, o surgimento da Tropicália e da Jovem Guarda. Não vou, de maneira alguma, comparar com o que é criado nos dias de hoje. As músicas italianas e francesas, também vieram com força total, colando rostos enquanto dançávamos - "Je t'aime moi non plus", não me deixa mentir.

Relembrando a moda, a meu ver, foi a década em que as mulheres eram mais elegantes. Mary Quant e sua inovadora Mini Saia, além da praticidade, fazia a alegria da ala masculina. Curiosamente, observo que a moda masculina de hoje, tem forte inspiração nos anos 60, basta ver as gravatas, ternos, sapatos, jeans e, cortes de cabelo.

Falei em Beatles e Mary Quant mas, não posso esquecer de citar James Bond. Os ingleses também marcaram presença importante em nossas vidas. Para os adolescentes da época, como eu, dançar Twist and Shout com uma menina vestindo mini saia, era o apocalipse! Após a dança, fazíamos aquela cara de 007, levantando a sobrancelha tentando impressionar a garota. Só faltava um Jaguar ou, um Aston Martin. Rolls Royce, era coisa de velho. Ah, a Invasão Britânica nos 60th! Nem Churchill imaginaria!

Não tínhamos a tecnologia de hoje e, nem precisávamos. As conversas e eventuais namoros, eram ao vivo. No máximo usávamos um telefone fixo, uma máquina de escrever ou, um bilhetinho enviado àquela menina "mais bonita do colégio".

Também não tinha essa coisa chata do "politicamente correto". Era permitido fumar em qualquer lugar; ninguém usava capacete ao pilotar uma moto; falávamos o que vinha à cabeça e, estamos conversados.

Com vinte e poucos anos, já éramos adultos, formados e prontos para casar. É verdade que alguns casamentos eram realizados às pressas e, tinham vida curta. Outros, duram até hoje e, só Deus sabe como!

Alguns acontecimentos daquela década, marcaram para sempre: Woodstock...Maio de 1968...Contracultura...Beatnicks...Homem na lua...Guerra fria...Kennedy...Martin Luther King...Brigite Bardot...Barbarella...Minha primeira CNH...Primeira namorada...e por aí vai!

Finalizando e, antes de fechar meu baú de recordações, não posso deixar de lembrar como as pessoas eram educadas, independente da classe social ou econômica.

Fecho o baú e volto à 2018 e...seja o que Deus quiser!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

DIGA 33

A medicina, sem dúvida alguma é, uma das profissões mais fascinantes e intrigantes. Fascinante, se levarmos em conta que o médico, é o responsável pela nossa saúde e, tem o poder absoluto quando entramos num consultório ou hospital. Intrigante, quando tentamos ler o que o Doutor escreveu na receita e, não entendemos uma linha sequer. A famosa "letra de médico" é algo que só os farmacêuticos entendem ou, os hipocondríacos que, além de absorverem e sentir qualquer doença, desenvolvem uma habilidade fantástica ao lerem aqueles hieroglifos quase psicografados.

Ser médico também confere um status superior. Outro dia, escutei numa loja de carros semi-novos que, tal modelo estava impecável, pois era "carro de médico" - como se alguém formado em medicina, tivesse habilidades e cuidados com o veículo, diferente dos comuns mortais.

Resolvi escrever esta postagem, depois de ser atendido numa super clínica. Quando cheguei para a consulta, imaginei ser recebido de imediato pelo Doutor, cujo nome ornamentava a fachada do prédio. Que nada! Após entregar meu carro no estacionamento, onde havia no mínimo seis manobristas, fui recebido por um funcionário alto e careca que, parecia o Gênio da Lâmpada. Não fosse o terno e a gravata borboleta que ele usava, eu diria que meu nome era Aladim.

Fui acompanhado até a recepção onde, três belas moças me fizeram um questionário interminável. Logo após, passei por uma mini lanchonete, onde me ofereceram café, chá, sucos e biscoitos. Tomei um café. Continuando o tour pela clínica, uma sala muito bem decorada, com poltronas de couro, me aguardava. Umas quatro pessoas, todas sorridentes, me cumprimentaram, enquanto também esperavam alguma novidade naquele templo da medicina. Não sei porque, achei que aqueles quatro pacientes eram figurantes contratados. O sorriso deles parecia programado, tipo aquelas pessoas que aplaudem e gritam no BBB, em dia de eliminação.

Meu nome foi anunciado e, uma Nutricionista me esperava em sua sala. De novo, perguntas intermináveis, sobre os meus hábitos alimentares, eventuais vícios, atividade sexual, leituras, convivência familiar, hobbies, preferência musical...ufa! Quase desisti da consulta.

Após a Nutricionista, foi a vez da Fisioterapeuta. Novas perguntas e, respostas já de saco cheio.

Finalmente, me avisaram que o Doutor iria me receber. Fui recebido pelo assistente do Doutor. Era um jovem sorridente, como aqueles quatro que aguardavam atendimento. Após uma conversa de 15 minutos onde, minha pressão foi aferida, o jovem Doutor/Assistente prescreveu alguns medicamentos e exames que, deveriam ser realizados num laboratório indicado pela clínica.

Quase estava esquecendo de relatar que, a Nutricionista também prescreveu uma dieta, cujas comidas congeladas, também deveriam ser adquiridas numa empresa recomendada por ela (e pela clínica, evidentemente). A Fisioterapeuta ficou de me enviar um email, indicando onde eu deveria fazer alguns exercícios.

Antes de me dirigir ao setor financeiro onde, uma conta do tamanho do rombo da Petrobrás me aguardava, eis que surge numa porta de vidro, o Doutor titular, aquele com nome na fachada do prédio. Ganhei um abraço e, em seguida me perguntou se fui bem atendido e, se gostei da clínica. Tive vontade de dizer que nem Walt Disney faria melhor. Nos despedimos e, fui pagar a conta, forçando um sorriso de figurante.

O Gênio da Lãmpada engravatado, me acompanhou até o estacionamento e, fui embora.

No caminho, lembrei do Dr. Paulo Moreira. O Dr. Paulo era aquele típico médico de família. Quando chamado, ia na minha casa com a sua indefectível maletinha de couro e, sobre ela, receitava uma tal "Limonada Purgativa" que, após ingerida, fazia a gente virar do avesso no banheiro mas, a cura era garantida. É claro que antes, ele colocava o estetoscópio nas minhas costa e falava: "DIGA 33"...

Saudades daqueles tempos, sem pacientes figurantes.