quinta-feira, 24 de junho de 2010

UMA TARDE COM QUINTANA


Tenho dois celulares. Hoje à tarde enquanto eu conversava com alguém num deles, peguei o outro e guardei-o no bolso. Em seguida pus-me a procurar o segundo por todo o apartamento, sem encerrar a ligação. Só depois de algum tempo, me dei conta que ele estava na minha mão direita, e junto ao meu ouvido. Ri sózinho. Coisas da idade...
Esse fato me remeteu à uma tarde cinzenta do outono de 1994. Retornava de uma visita à Faculdade de Engenharia em Porto Alegre, e ia pegar meu carro que estava estacionado numa rua próxima. Ao entrar na tal rua, notei que à minha frente caminhava um senhor idoso segurando uma bengala. Num determinado momento, percebi que ele inclinou-se para a direita como se fosse cair. Apoiou-se numa parede, e fui ao encontro dele tentando ajudá-lo. Segurei-o pelo braço e perguntei se estava sentindo-se mal. Ele respondeu: "Acho que estou enxergando anjos...". Notei que ele estava pálido e suando muito. Ofereci-me para acompanhá-lo, e ele aceitou dizendo que morava próximo.
Dei o braço à ele, e caminhamos mais alguns metros chegando à frente de um hotel. Estranhei por ele morar ali, e quando olhou-me convidando-me para entrar, percebi que era Mário Quintana.
Entramos e ao chegarmos na recepção, ele perguntou meu nome. Apresentei-me, e em seguida ele chamou um funcionário e disse: "Nestor, providencia um chá para Francisco, o anjo salvador!" Sorri e brinquei com ele dizendo que poetas têm inspiração por qualquer coisa. E ele simulando falar baixinho sussurou: "Esse aí, é tão incompetente que não vale uma poesia!".
Admirado com a simpatia e bom humor do poeta, levei-o até ao quarto. Ele insistiu para que eu entrasse e aguardasse o chá. Pediu-me que não reparasse na bagunça do quarto de um "rapaz" solteiro!
Como só havia uma cadeira que foi ocupada por ele, sentei-me na cama. Enquanto ele perguntava sobre minha vida, profissão, família, etc., meus olhos e olfato percorriam aquele ambiente de onde tantas poesias e textos foram escritos, e que ainda encantam tanta gente.
Naquele ano, dezesseis anos mais jovem, ouvi do poeta o seguinte: "Aproveite sua juventude, e tenha histórias para contar mais tarde.". Jamais esqueci aquele conselho, e repito-o sempre às pessoas mais jovens que convivo.
Com grande satisfação, ele mostrou-me uma carta escrita por Bruna Lombardi, sua musa, além de várias fotos de Greta
Garbo, outra de suas paixões. Contou-me sobre sua infância na cidade de Alegrete-RS, e seus primeiros anos em Porto Alegre; suas noitadas com amigos, e o primeiro trabalho "com as letras", como ele dizia.
As horas passaram e nem notei. Estava simplesmente encantado e absorvendo toda aquela simpatia e simplicidade. Disse a ele que não me conformava com o fato dele ter sido preterido em favor de José Sarney na vaga da Academia Brasileira de Letras. Com um sorrisinho maroto ele brincou: "Marimbondos, têm uma ferroada muito forte!".
Levantei-me dizendo que já era tarde, e perguntando se ele estava bem. Ele disse que sim, apenas a memória o traía vez ou outra, pois desde que chegara comigo no hotel, estava procurando a caneta e não sabia onde a deixara. Olhei para ele e perguntei se era a mesma caneta que ele segurava na mão esquerda. Ele arregalou os olhinhos, e soltou uma sonora gargalhada.
Mal sabia ele que anos depois, seu "anjo salvador" estaria à procura de um celular que estava junto do ouvido!
Um mês depois, soube da morte do poeta enquanto viajava do Rio para Brasília. Lembrei daquele tarde inesquecível e ainda tão recente, e chorei durante o voo.
Cada vez que passo na frente da Casa de Cultura Mario Quintana, entro para ver o quarto dele que está exposto lá, e vejo a caneta em cima da mesa. Quando noto aquelas pessoas que vão lá visitar, não resisto e penso comigo: "Eles passarão... O Mario passarinho!".
Quanto ao chá, não cheguei a tomar, pois o Nestor deve ter esquecido.
Certamente ele não valia uma poesia!

terça-feira, 22 de junho de 2010

O ALL STAR... Azul


"Estranho seria se eu não me apaixonasse por você..."
"Estranho é gostar tanto do seu All Star azul..."
Enfim, será que "...aquela conversa que não terminamos ontem, ficou pra hoje?"

quarta-feira, 16 de junho de 2010

ENTRE FLECHAS E PALAVRAS...


Tem um velho provérbio que diz o seguinte: "Três coisas na vida, não voltam jamais: A flecha lançada, a palavra dita, e a oportunidade perdida!"
Dessas três coisas, concordo parcialmente com uma. As demais, discordo totalmente.
Flecha lançada: De fato, uma flecha lançada não volta, salvo algum efeito especial numa filmagem, mas daí não é real! Mesmo assim, ainda que no terreno da ficção ela voltaria.
Palavra dita: Algumas pessoas, falam e escrevem coisas com tamanha convicção, que até o mais incrédulo dos homens passa a acreditar. O poder de convencimento é enorme, e tem a mesma proporção de quando negam tudo o que falaram. Tentam convencer-nos de que não era bem isso que queriam dizer, ou então, "o momento era outro"... Ou seja, palavras voltam, sim.
Oportunidade perdida: Sempre acreditei que algumas oportunidades que perdemos, não eram para acontecer, e certamente outras iguais, ou até melhores surgirão em nossas vidas.
Sendo assim, chego à conclusão que não devemos acreditar em tudo o que nos dizem, e que ao perdermos uma oportunidade, não devemos lamentar, pois algo melhor está por vir.
O problema são as flechadas. Na vida real, elas não voltam...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

NA PRAIA...


Ontem, revendo fotos antigas dos meus tempos de criança na praia, constatei como éramos infelizes. Ninguém, por mais lindo que fosse, conseguia ficar bonito com aqueles trajes.
Com o passar dos anos, acompanhei a evolução do biquini. Teve o "asa delta", "fio dental", e até a inesquecível sunguinha de crochê imortalizada pelo Gabeira!
Lembro de um short de nylon que ganhei de presente; tinha um bolsinho na parte traseira para colocar o pente, e ao entrar na água, ele estufava como um para-quedas. Lindo!!
Acho que é o frio que faz em Porto Alegre, que me trouxe essas lembranças...
Mas, continuando essa interesante análise antropológica sobre trajes de banho, lembrei que durante muitos anos o padrão de mulher "boa" no Brasil foi o tipo violão. Mais anca do que peito. Aos poucos fomos nos enquadrando nos padrões internacionais de beleza, embora persistisse a certeza de que o padrão violão era melhor e os estrangeiros não sabiam o que estavam perdendo.
O tipo longilíneo se impôs e hoje nem entre os travestis, estes guardiões das virtudes femininas em desuso, se encontra o formato antigo. E viva o colonialismo cultural!
A evolução do maiô teve muito a ver com isso. O advento do biquini e da tanga, condenou a coxa larga a adaptar-se ou sair da praia.
A transformação do traje de banho trouxe outros benefícios para a humanidade e seus fundilhos. Ainda peguei o tempo dos calções infantis de pano. Era um horror! Eles ficavam pesados e ásperos quando molhados e cheios de areia, e nos assavam as pernas e a bunda.
Lembro também, que até uma determinada época, os "maillots" eram discretos e feitos em cores sóbrias. Tudo para disfarçar que as moças tinham sexo. Mas a gente sabia que elas tinham, embora não se tivesse bem certeza de como funcionava.
Conclusão: bons tempos, nada!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A AJUDA DO GURU


Eu queria muito escrever um post. Tinha tempo e nenhuma ideia. Fazer o que?
Pensei em rezar para Nossa Senhora da Falta de Inspiração, mas desisti. Inventei então um Guru imaginário, e expliquei minha situação. Ele me ouviu, sorriu paternalmente, lembrou-me que jornalistas as vezes, têm o mesmo problema, e pior, precisam cumprir prazos, o que não era meu caso, mesmo assim sugeriu:
- Escreva sobre isso. Sobre alguém com tempo e sem ideias, e que quer escrever um post no seu blog.
- Mas meu Guru, isto é o que fazem os blogueiros desde que inventaram a internet. Na falta de assunto, escrevem sobre a falta de assunto. Pouco original...
- Ainda bem que você reconhece, meu caro Francisco. Esse truque não funciona mais. Que tipo de post você quer fazer?
- Bem...
- Você quer algo Sério? Humorístico? Profundo? O que você pensou...
- Humorístico.
- Que tipo de humor?
- Quantos tipos há?
- Tem o humor fácil que sempre funciona. Um homem escorregando na casca de banana, por exemplo. O cara escorrega e cai. Não é muito engraçado, mas já é um começo.
- E o que acontece depois?
- Depende do tombo. Você pode desenvolver algo como a casca de banana simbolizando o destino e da fatalidade da morte. Sei lá...!
- E onde está o humor?
- No final a gente inventa uma piada, ou uma frase de efeito.
- Sei não. Casca de banana...
- Você quer uma coisa mais refinada? Escreva diálogos sofisticados. Eles têm uma grande vantagem.
- Qual é?
- Eles enchem mais espaço. O leitor pode ter mais dificuldade em identificar quem está falando, como agora por exemplo, mas o blogueiro sem inspiração realiza seu objetivo principal, que é chegar ao fim do post o mais rápidamente possível.
- Tudo bem, meu Guru. Dá uma dica então.
- Hummm. Deixa ver. Homem chega em casa e pede para a mulher "prepara um drinque para mim e um banho quente para nós dois". Mulher diz: "Acho que você já tomou drinques demais". Homem: "Porque você diz isso, querida?" Mulher: "Porque esta não é a sua casa e eu não sou a sua mulher". Homem: "O banho quente, então, nem pensar?"
- Acho melhor esquecer o humor...
- Sobre o que escrevo, então?
- Sei lá, Francisco...Tenta algo profundo como a Alma, a Bolsa-Família...
- Não adianta. Não consigo!
- Porra! Então escreve qualquer bobagem, mas com uma epígrafe do Shakespeare, Drummond, ou Clarice Lispector. Qualquer coisa fica séria com uma boa epígrafe. E todo mundo faz isso nos blogs!
- Você acha, Guru?
- Vamos fazer o seguinte. Inventa um Guru Imaginário a quem você pede ajuda, e o diálogo entre vocês, passa a ser o post. Pronto.
- Mas isso também é um truque!
- E daí? Funcionou. Você chegou ao fim!
- Mas...Guru, você não tem mais nada para me dizer?
- Tenho sim. Beijãozão pra você Francisco, e não enche mais o saco!