Recentemente cometi uma heresia ao colocar num post minha opinião sobre Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu.
Recebi por email duas ou tres manifestações raivosas de fãs indignadas com o meu "desrespeito". Coincidentemente, eram mulheres jovens que estavam inconformadas com o fato de eu, um mero blogueiro, ousar tanto ao dizer que não gosto do que ambos escrevem mesmo respeitando os respectivos talentos. Apenas acho-os depressivos demais, mesmo sabendo que externaram em seus livros muito de suas personalidades e do momento que viveram.
Observo tanto em textos nos blogs como no facebook, a admiração que certos jovens têm por Clarice, principalmente as mulheres. Conheço bem os jovens, até porque trabalho com alguns deles todos os dias. Adoro-os pela expontaneidade e pela pressa em viver tudo o mais rápido possível. Já fui jovem e confesso, ainda sou assim também!
Não é verdade que eles não leem jornais. Leem menos, em média do que pessoas mais velhas de certas categorias sociais. Leem principalmente os jornais que seus pais leem ou assinam.
Outro dia, numa palestra em uma montadora de veículos que presto consultoria, perguntei à alguns se conheciam José Simão e Carlos Heitor Cony. Dois conheciam o Macaco Simão, e apenas um conhecia Cony, mas todos sabiam quem era Arnaldo Jabor, afinal ele aparece na televisão. Quando perguntei se já viram filmes de Jabor, o silêncio foi absoluto.
Devemos condenar essa garotada por incultura? Claro que não! Eles têm menos de 30 anos, muito o que aprender, são carinhosos, curiosos, abertos e críticos. E principalmente, querem ser convencidos, ainda que pela Internet ou televisão.
Voltando às fãs (mulheres) jovens e indignadas de Clarice, lembrei que as mulheres mais velhas percebem melhor as sutilezas da ironia. Já passaram da idade de admirar certas publicações "chocantes" e citações "pré-suicídio"; não se deslumbram mais com o besteirol fashion da festinha literária de Paraty, onde um americano babaca, Benjamin Moser despeja um amontoado de clichês sobre Clarice Lispector.
As mulheres mais velhas já não se fascinam com as arqueologias da depressão feitas pela sofrida Clarice, a mais citada nos consultórios psicanalíticos, com suas frases ambíguas e sua melancolia de intelectual sempre insatisfeita. Querem é viver. Querem luz. Uau!!
Mulheres de 20, 30 ou 40 anos que descobrem Clarice Lispector tardiamente, perdem no mínimo uma década fazendo terapia. As mais velhas já superaram tudo isso. São livres. Já se libertaram da admiração infantil pelos casais perfeitos e insossos da televisão. Elas querem pimenta, molho e gosto pronunciado, o gosto do autêntico. Algumas descobrem o mocotó e a paella, outras passam a gostar de funk. São elas que realmente têm pegada, e estão na fase da desconstrução. Já sabem que todos os mitos são falsos!
16 comentários:
Bom, eu amo Clarice mas respeito seu ponto de vista...rs
Linda semana pra ti querido, beijos.
Belíssimo, como a maioria de seus textos. Perfeição, nem na globo mais....rs
Qto a porta aberta, fiquei sem entender nada.
Semana excelente pra ti, Presidente.
Bjs meus!
Vc tá certo! Fico pasma comigo mesma, quando percebo que, hj em dia, pra que eu vá às lágrimas, tem de ser por algo muito, mas muito especial mesmo!...
Parece que a gente vai criando uma casca com a idade, mas sem perder a sensibilidade! Pode parecer incoerente o que estou a dizer... mas não é! Simplesmente a gente vai aprendendo a ser mais seletivo com o que possa merecer, de fato, compartilhar dos nossos sentimentos!
Sei lá se fiz-me entender, mas foi o que eu senti, ao ler o seu texto!
Quanto à Clarice, eu a admiro e a respeito muito, mas depois de anos de terapia, já não me assombram os seus incríveis questionamentos! Parece aquela coisa de "enquanto vc vai buscar o milho, eu já voltei com a pipoca"!!
Pretensão minha?? Pode ser...
Mas longe de mim, estar tentando me comparar a ela, apenas entendo e convivo melhor com os seus intensos questionamentos! Apenas isso... rs
Falou? rs
Bjssss
Helô
Passada pra deixar um beijo em ti,querido amigo...
Doce noite...
Nega
Humm...adoro CFAbreu, mas já passei da fase de tentar impor o que gosto rss.
Bjo carinhoso!
Cada um faz suas descobertas, beijo Lisette.
Eu admito que também penso como você quando me pego a pensar como são tristes e melancólicos os poemas de Clarice . Precisamos de versos menos tristes e de coisas mais alegres que nos deixe com o coração aos pulos de alegria .
Beijos de algodão doce .
Marisol
Meu querido amigo!..
Saudades de ver teus textos...mas estou de volta e não perderei mais essas coisas legais que escreve...
Clarice...Clarice!?!?...É...pode ser!...
Beijooo
Ih que complicadooo!
Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então. (Clarice Lispector)
hahahahahahaahahhaha.
Beijos garoto.
Oi meu Dindo,
Vc anda ousado, heim? Isso me enche de orgulho.
Tanta coisa nessa vida não é como imaginávamos que seria...estou vivendo isso e amando o não ser... a dificuldade, o reaprender....dar uma nova forma de ver e ser feliz!
Essa texto me esbofeteou a cara rs
Amei!
Tb adorei te ouvir, viu? Agora, próximo passo, conhecer meus dindos, ponha tb em seu caderninho de obrigações rsrsrs
bj
Começo usando meio clichê, "o que seria do amarelo se...".
Uma das melhores coisas da vida é o livre arbítrio, que nos permite ser outro e trazer novas cores e perspectivas aos olhares acostumados às cores padrão.
No meio de tudo sempre alguém sai do centro e decide ver se há algo mais perto da borda.
Nenhum olhar é igual ao outro, nem os meus que somado a eles, torna-se outro constantemente.
Admiro quem defende suas ideias de modo inteligente.
Parabéns!
(Obrigado pelas palavras traçadas no blog!)
Muitas mulheres - e homens também - tem volúpia pelo sofrimento.
Eu gosto da Clarice mas concordo que que esse prazer em ser depressiva e tratar a felicidade como algo inalcançável enche o saco.
Minha admiração por Clarice,e seus textos melancólicos (presentes no ''sun'');só não sãomaiores que minha apreciação pelo livre arbítrío.Seu texto honesto e inebriante,é um brinde à eleo livre arbítrio.Te admiro por isto...talvez por não fazer parte da ''juventude'' que o acerca,eu me sinta tão Macabéa...quanto Clarice em A hora da estrela,toda ''Mulher'' é um misto de Clarice X Macabéa. PS.: Pela ausência da juventude eu saberia as respostas da sua palestra,rs ... Bjks saudosas! Como Clarice...''Você esta escrevendo,como,ninguém - está dizendo oque ninguém ousa dizer.(Fernando Sabino).
Chico querido!!
Quanta saudade de ler seus textos incríveis e inteligentes, e principalmente, quanta saudade dessa amizade de tantos anos!
Quando você vai se dar conta que é genial, e que precisa com urgência colocar tudo isso num livro??
Em janeiro estarei aí no Brasil, e levo junto meu "boyfriend"...rsrs Te aviso quando chegar.
Mil beijos, from London!
Minha admiração por Clarice,e seus textos melancólicos (presentes no ''sun'');só não sãomaiores que minha apreciação pelo livre arbítrío.Seu texto honesto e inebriante,é um brinde à eleo livre arbítrio.Te admiro por isto...talvez por não fazer parte da ''juventude'' que o acerca,eu me sinta tão Macabéa...quanto Clarice em A hora da estrela,toda ''Mulher'' é um misto de Clarice X Macabéa. PS.: Pela ausência da juventude eu saberia as respostas da sua palestra,rs ... Bjks saudosas! Como Clarice...''Você esta escrevendo,como,ninguém - está dizendo oque ninguém ousa dizer.(Fernando Sabino).
Postar um comentário