
Por que todo centro comercial precisa se chamar shopping? Por que cachorro agora é Pet? Por que vaca está virando Cow? Por que todo shopping precisa ter nome estrangeiro? Até nome espanhol serve, menos português.
Quero dar algumas dicas: Sempre que, num restaurante, a descrição do prato associar, por exemplo, um produto banal a um adjetivo pouco usado, esqueça. É fria: filé tenro com alface crocante e tomates aveludados. Se houver uma inversão, tenro filé, é pior ainda. Corra. Se a descrição detalhar cada ingrediente, nem sente à mesa: folha de alface, rodela de tomate, fatia de pão francês, etc. A enumeração será longa e muito chata, e o prato minúsculo.
Para quem fica indeciso na hora de escolher, aqui vai uma pista definitiva: o tamanho e o formato do prato. Sempre que o prato (o objeto) individual for o dobro de um normalmente usado em casa e tiver formato de disco voador, quadrado, ovalado, triangular, em losango, desista. A comida é ruim! Um bom restaurante usa pratos redondos e fim de papo.
Pratos quadrados indicam mentalidade marqueteira e falta de substância.
Sei que a escolha do vinho é outro problema. Alguns escolhem pelo preço ou pelo nome. Não deixa de ser um bom critério, mas pode enganar. O tinto chileno Casa Silva, apesar desse sobrenome considerado comum e lembrar um certo Presidente, é quase sempre de excelente qualidade. Eu garanto! Na maior parte das vezes, porém, um bom sinal para evitar um vinho está na sua descrição. Se falar em cor de rubi, é conversa fiada.
Outra coisa que alguns "modernos" adoram, são ambientes com materiais frios e ar-condicionado. Viram como tudo se interliga? Colocam o ar a mil mesmo que no lado de fora esteja nos 18 graus.
Ser moderno é passar frio sem perder a pose. Revela atitude, pegada e, segundo alguns especialistas, potência sexual...! Confesso que tenho minhas dúvidas, pois a modernidade às vezes me escapa.
Um amigo dono de bar me explicou que ambientes modernos evitam cadeiras e bancos. Bacana e jovem mesmo é passar a noite em pé, onde seja impossível sentar-se. Cadeira é coisa de velho. Vimos isso no último debate dos candidatos à Presidência da República. Ambos ficavam caminhando de um lado para o outro parecendo estar com vontade de fazer xixi... E sempre em pé, all the time...!
Essa moda do ar-condicionado a mil chegou nos táxis e em alguns ônibus. Com o uso daquelas películas para escurecer vidros, temos a sensação de andar de ônibus na Suécia. Ouvi dizer que um vândalo em crise de abstinência, arrancou uma daquelas películas com as unhas!
Num restaurante, outra noite de um junho gelado, num espaço marmóreo e envidraçado, as atendentes usavam casacos grossos sobre o avental. O ar-condicionado soltava baforadas de vento frio. Os clientes mais jovens exibiam seus braços tatuados e só faltavam suar. Os velhinhos como eu tremiam de frio. Escolhi o prato e o vinho. O prato (objeto) lembrava um trapézio. Pulei a sobremesa para evitar uma pneumonia...
Quem mandou sair à noite no inverno gaúcho para jantar. E ainda por cima, em local "moderno"...!