Basta ler as seções de ciência e medicina dos jornais ou assistir a certos documentários, para compreender que já começou a passar o tempo em que o máximo que um casal esperando um filho discutia era o nome do pimpolho. Hoje é o mínimo, até porque me contaram que já se pode recorrer a profissionais especializados. O freguês fornece os dados necessários e o especialista consulta fontes que vão da etimologia à numerologia, a fim de determinar o nome a ser dado à criança. Nada desse negócio de santo do dia, homenagem a artista de TV ou chamar o júnior de Djalmotércio, para lembrar os avôs Djalma e Natércio.
Agora e no futuro próximo, com os avanços da genética e das técnicas de manipulação de gametas, ovos e embriões, as discussões serão bem outras. Não duvido que daqui há alguns anos, possa aparecer um Photoshop intrauterino, talvez denominado Babyshop. A ideia seria durante a gestação, ir determinando as feições do bebê, cor do olhinho, cabelos, nariz, etc.
Imaginei um casal diante do computador discutindo:
- Que é que você acha do cabelo, assim encaracoladinho? - pergunta o orgulhoso papai.
- Horrível, diz a mãe, isso não se usa mais!
- Como não se usa mais? Minha filha vai ter cabelo cacheado!
- Cacheado não é encaracolado, deixe de ser burro, você não sabe inglês. Olhe aí na janela do programa: Kinky é bem encaracolado, Curly é que é cacheado. Clique no Curly, dois cliques.
- Não clico em nada. Pensando bem esse programa é pirata, é melhor não mexer nisso, outro dia ele travou e deixou a menina com um olho de cada cor, e nariz de bruxa. Foi um custo para eu deletar. Deixa assim mesmo!
- Cuidado! Ah, meu Deus, o útero está em linha? A placenta está conectada? Que cabo é esse na barriga dela?
- Não esquenta! Esse cabo aí é o da WebCam, para eu mostrar as modificações para a tia Adélia lá em Salvador.
- Ah...!
Inútil discutir sobre se isso tudo é bom ou ruim. Se vai existir ou não. O ser humano sempre viveu querendo controlar aquilo com que se relaciona, inclusive o organismo de sua espécie e sua reprodução. Portanto, devemos estar preparados para o progresso!
No Brasil, considerando-se que somos o povo mais tudo do mundo, isso não constituirá dificuldade. Com um governo "voltado para o social" como o que temos, o filho retocado no Babyshop seria disponibilizado através do SUS.
Claro que em clínicas particulares, o atendimento seria outro, e as felizes mamães sairiam de lá com o perfil exato do belo filhote.
Quem for pelo SUS, além de madrugar para conseguir atendimento, poderá ter surpresas!
A mamãe de classe pobre, que já chega para o Babyshop com o nome escolhido, corre o risco de sair de lá, com o perfil do bebê parecido com uma mistura do Freddy Kruger com Ronaldinho Gaúcho.
E não adianta reclamar, porque o Babyshop do SUS só dá dois megapixels.