domingo, 31 de outubro de 2010

SER MODERNO...


Por que todo centro comercial precisa se chamar shopping? Por que cachorro agora é Pet? Por que vaca está virando Cow? Por que todo shopping precisa ter nome estrangeiro? Até nome espanhol serve, menos português.
Quero dar algumas dicas: Sempre que, num restaurante, a descrição do prato associar, por exemplo, um produto banal a um adjetivo pouco usado, esqueça. É fria: filé tenro com alface crocante e tomates aveludados. Se houver uma inversão, tenro filé, é pior ainda. Corra. Se a descrição detalhar cada ingrediente, nem sente à mesa: folha de alface, rodela de tomate, fatia de pão francês, etc. A enumeração será longa e muito chata, e o prato minúsculo.
Para quem fica indeciso na hora de escolher, aqui vai uma pista definitiva: o tamanho e o formato do prato. Sempre que o prato (o objeto) individual for o dobro de um normalmente usado em casa e tiver formato de disco voador, quadrado, ovalado, triangular, em losango, desista. A comida é ruim! Um bom restaurante usa pratos redondos e fim de papo.
Pratos quadrados indicam mentalidade marqueteira e falta de substância.
Sei que a escolha do vinho é outro problema. Alguns escolhem pelo preço ou pelo nome. Não deixa de ser um bom critério, mas pode enganar. O tinto chileno Casa Silva, apesar desse sobrenome considerado comum e lembrar um certo Presidente, é quase sempre de excelente qualidade. Eu garanto! Na maior parte das vezes, porém, um bom sinal para evitar um vinho está na sua descrição. Se falar em cor de rubi, é conversa fiada.
Outra coisa que alguns "modernos" adoram, são ambientes com materiais frios e ar-condicionado. Viram como tudo se interliga? Colocam o ar a mil mesmo que no lado de fora esteja nos 18 graus.
Ser moderno é passar frio sem perder a pose. Revela atitude, pegada e, segundo alguns especialistas, potência sexual...! Confesso que tenho minhas dúvidas, pois a modernidade às vezes me escapa.
Um amigo dono de bar me explicou que ambientes modernos evitam cadeiras e bancos. Bacana e jovem mesmo é passar a noite em pé, onde seja impossível sentar-se. Cadeira é coisa de velho. Vimos isso no último debate dos candidatos à Presidência da República. Ambos ficavam caminhando de um lado para o outro parecendo estar com vontade de fazer xixi... E sempre em pé, all the time...!
Essa moda do ar-condicionado a mil chegou nos táxis e em alguns ônibus. Com o uso daquelas películas para escurecer vidros, temos a sensação de andar de ônibus na Suécia. Ouvi dizer que um vândalo em crise de abstinência, arrancou uma daquelas películas com as unhas!
Num restaurante, outra noite de um junho gelado, num espaço marmóreo e envidraçado, as atendentes usavam casacos grossos sobre o avental. O ar-condicionado soltava baforadas de vento frio. Os clientes mais jovens exibiam seus braços tatuados e só faltavam suar. Os velhinhos como eu tremiam de frio. Escolhi o prato e o vinho. O prato (objeto) lembrava um trapézio. Pulei a sobremesa para evitar uma pneumonia...
Quem mandou sair à noite no inverno gaúcho para jantar. E ainda por cima, em local "moderno"...!

sábado, 23 de outubro de 2010

A VOZ


Através da voz, transmitimos confiança, amor, carinho, raiva, e emoções. Podemos ser convincentes, ou não. Podemos ferir alguém, ou deixá-lo apaixonado.
Uma pessoa que exerça liderança, pode por tudo a perder se não tiver uma voz firme, cativante, e ao mesmo tempo doce e confiável.
Apresentadores de televisão, locutores, políticos, e até líderes religiosos são o melhor exemplo disso. As pessoas não confiam em quem fala com timidez ou não passa credibilidade. Os animais também. Um adestrador precisa necessáriamente falar e entender seus "alunos", utilizando um timbre de voz marcante e transmitindo amizade.
Resolvi escrever à respeito, porque detesto minha voz. Não suporto ouvi-la em gravações ou vídeos, e já pensei seriamente em procurar um fonoaudiólogo.
O que me deixa mais confuso, é que algumas pessoas que já me ouviram dizem que ela é "bonita" e "agradável"... Só pode ser para me agradar e não me deixar complexado!
Talvez esteja aí a explicação para eu gostar mais de escrever do que falar. A única ocasião em que prefiro a fala à escrita, é no MSN. Não gosto de "conversar escrevendo", e se a conversa for direcionada para alguma discussão, menos ainda! Nesse caso, pego logo o telefone e solto meus demônios e transmito minha "raiva e emoção", tentando ser "convincente"...!
Duvido que nessas horas quem me escuta do outro lado da linha, ache minha voz "bonita e agradável"...!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

AINDA SOBRE CLARICE...


Recentemente cometi uma heresia ao colocar num post minha opinião sobre Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu.
Recebi por email duas ou tres manifestações raivosas de fãs indignadas com o meu "desrespeito". Coincidentemente, eram mulheres jovens que estavam inconformadas com o fato de eu, um mero blogueiro, ousar tanto ao dizer que não gosto do que ambos escrevem mesmo respeitando os respectivos talentos. Apenas acho-os depressivos demais, mesmo sabendo que externaram em seus livros muito de suas personalidades e do momento que viveram.
Observo tanto em textos nos blogs como no facebook, a admiração que certos jovens têm por Clarice, principalmente as mulheres. Conheço bem os jovens, até porque trabalho com alguns deles todos os dias. Adoro-os pela expontaneidade e pela pressa em viver tudo o mais rápido possível. Já fui jovem e confesso, ainda sou assim também!
Não é verdade que eles não leem jornais. Leem menos, em média do que pessoas mais velhas de certas categorias sociais. Leem principalmente os jornais que seus pais leem ou assinam.
Outro dia, numa palestra em uma montadora de veículos que presto consultoria, perguntei à alguns se conheciam José Simão e Carlos Heitor Cony. Dois conheciam o Macaco Simão, e apenas um conhecia Cony, mas todos sabiam quem era Arnaldo Jabor, afinal ele aparece na televisão. Quando perguntei se já viram filmes de Jabor, o silêncio foi absoluto.
Devemos condenar essa garotada por incultura? Claro que não! Eles têm menos de 30 anos, muito o que aprender, são carinhosos, curiosos, abertos e críticos. E principalmente, querem ser convencidos, ainda que pela Internet ou televisão.
Voltando às fãs (mulheres) jovens e indignadas de Clarice, lembrei que as mulheres mais velhas percebem melhor as sutilezas da ironia. Já passaram da idade de admirar certas publicações "chocantes" e citações "pré-suicídio"; não se deslumbram mais com o besteirol fashion da festinha literária de Paraty, onde um americano babaca, Benjamin Moser despeja um amontoado de clichês sobre Clarice Lispector.
As mulheres mais velhas já não se fascinam com as arqueologias da depressão feitas pela sofrida Clarice, a mais citada nos consultórios psicanalíticos, com suas frases ambíguas e sua melancolia de intelectual sempre insatisfeita. Querem é viver. Querem luz. Uau!!
Mulheres de 20, 30 ou 40 anos que descobrem Clarice Lispector tardiamente, perdem no mínimo uma década fazendo terapia. As mais velhas já superaram tudo isso. São livres. Já se libertaram da admiração infantil pelos casais perfeitos e insossos da televisão. Elas querem pimenta, molho e gosto pronunciado, o gosto do autêntico. Algumas descobrem o mocotó e a paella, outras passam a gostar de funk. São elas que realmente têm pegada, e estão na fase da desconstrução. Já sabem que todos os mitos são falsos!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

HOMENS COM MAIS DE 50...


Um homem com mais de 50 anos de idade defronta-se com questões angustiantes: qual a chance de vir a ter câncer de próstata? Poderá sofrer de disfunção erétil? Hasteará a bandeira a meio pau? Verá o Internacional ser campeão mundial novamente? Suportará o exame de toque uma vez por ano? Ou vai querer que seja trimestral?
Alguns se arrependem de coisas de décadas antes: não ter pego a mão da Lulu na matiné do Cine Imperial só para não perder a cena do duelo, não ter beijado a Aninha na miniboate do Clube, ou ter beijado aquela baranga no carnaval de 1977, ter deixado cair a hóstia na cerimônia da primeira comunhão, ou ainda ter permitido que o Marcão levasse aquele disco dos Beatles e deixado em troca um da Rosemary. Isso sem falar em ter usado calça boca de sino, sapato plataforma e colete de lã.
Após os 50, algum se apavoram. Dizem que é hora de tomar uma decisão e de viver pelo menos uma experiência autêntica definitiva.
Já vi gente trocar de sexo, de ideologia, de partido político, de cabeleireiro, de carro, e até de parceiro por causa disso. Os tempos andam tão vertiginosos que tudo parece possível; até aquilo que nos choca. Por exemplo, um cara com mais de 50 anos trocar de clube de futebol, o Grêmio pelo Inter, o Inter pelo Grêmio. Aí, sejamos francos, já é falta de caráter ou desespero.
Precisamos, contudo, compreender as pessoas. Homens cinquentenários questionam-se sobre coisas inusitadas ou simplórias: devem usar Viagra ou é cedo? Fica bem nessa idade trocar o PP pelo PSol ou é melhor passar pelo PV antes? Usar tênis All Star e blazer não vai parecer coisa de velho babão querendo bancar o jovem? Devem arranjar uma desculpa para caçar naquele local da moda? Sair da Rua Padre Chagas em Porto Alegre para a casa da namorada tem algum significado? Qual?
Outro dia, num grupo de amigos com mais ou menos 50 anos de idade, quis saber qual a pergunta que eles mais faziam para si mesmos. A resposta foi unânime: "ainda vou comer uma gata de parar o trânsito?". Bando de velhos machistas...! Parar o trânsito...! Só essa expressão já mostra a idade que têm!
Depois dessa, encontrei o real significado para sair da Rua Padre Chagas e ir para a casa da minha namorada, que por sinal é de parar o trânsito...!
* Rua Padre Chagas em P.Alegre: Local frequentado por gente bonita e de "parar o trânsito..."